Joana acordou de manhã. Estava fria e chuvosa. Boa para ficar até mais tarde, abraçada junto de alguém especial. Mas, ela não tinha esse alguém especial. Afinal, ela era uma prostituta. De grife. Chique.
Loira, 1,80 ms, 79 kilos, olhos azuis da cor do céu, coxas grossas e corpo perfeito. Cursava  medicina na Usp.
Ela pretende se especializar em pediatria.
Adora crianças.
No fundo do seu coração, no mais profundo âmago do seu ser, pulsa a vontade gritante de ser mãe.
O que fazia aquela mulher, quase médica, a procurar os prazeres da carne de forma tão tresloucada?
Nem ela sabia responder.
Procurava respostas, que nunca chegavam.
10:00 horas.
O telefone toca.
Era aquele cliente, político importante que havia combinado um programa no dia anterior.
Quando ele chegou, arrependeu-se de ter cobrado somente R$ 900,00.
Era o senador da república que estava envolvido em falcatruas milionárias com empreiteiras que participavam de licitações fraudulentas junto ao governo federal.
Um gato, pensou ela.
- Deveria era ter cobrado R$ 2.000,00.
A porta fechou-se e ela se entregou a ele por inteiro, para saciar a sua volúpia sexual.
Mas, na realidade, no momento do ato sexual ela imaginava seu principe encantado, ainda sem rosto, transando com ela, não só pelo prazer, mas também entregando-lhe amor, muito amor.
Há! Como ela sentia falta de um amor.
Procurava em vão, mas não conseguia encontrar.
Acabou o tempo. Ele se levantou, despediu-se educadamente dela e disse:
- Você foi maravilhosa! Prometo que eu volto!
Saiu!
Ela deitada na cama, seminua, novamente pensou:
- Sim, ele vai voltar, como todos voltam. Não por mim, mas sim pelo meu corpo, pelo meu sexo.
Joana queria amar!
Joana desejava receber amor.
Adormeceu!
Sonhou!
- Mamãe!! Como?
- Você partiu faz tanto tempo!
- Há minha filha! Parti tão cedo. Mas nunca me afastei de ti. Sempre que me autorizavam vinha vê-la. Mas fervorosamente rezava por ti.
- Coragem Joana!
- Levanta!
- Acredite em Deus!
- Você é decente!
- Saia dessa vida!
- Até Jesus, quando encarnado, perdoou Madalena, mas não resistiu aos seus encantos e deitou-se com ela.  Acredite em Deus minha filha! Acredite em você!
- Eu sempre vou te amar.
Joana acordou leve, um pouco assustada.
- Nossa! Que sonho! Até parecia que mamãe estava aqui comigo.
E o tempo foi passando, ela continuando a estudar ferrenhamente, e a vender seu belo corpo.
Até que um dia, pelo corredor do hospital onde já estava fazendo residência observou um médico que também fazia residência.
Seus olhos se cruzaram. Algo inesperado bateu no coração de Joana, bem como no de Paulo (esse era o seu nome).
Começaram a conversar quase que todo dia.
Paulo era filho de um rico fazendeiro de Goiás.
Joana tinha 29 anos e Paulo 32.
Paulo iria se especializar em cirurgia plástica estética e restauradora.
Era solteiro.
Ele convidou-a para ir ao cinema.
Foram assistir ao filme Uma Linda Mulher.
Ele convidou-a para ir ao seu apartamento.
Foram.
Transaram.
Joana se entregou para ele. Seu coração queria também se entregar.
Mas, e Paulo? Também queria?
Num momento mágico seus olhos se encontraram novamente.
- Joana, posso te dizer uma coisa?
- Diga Paulo.
- Posso ser sincero contigo?
- Sim, falou timidamente.
- Antes de mim, já saiu com muitos?
- Paulo, eu.......
- Quero sua sinceridade.
Joana estava apaixonada por Paulo.
E agora? Se contasse que era além de estudante de medicina, quase médica, também garota de programa, com certeza ele a enxotaria.
Num gesto brusco, Joana saiu de cima dele, sentou-se na beira da cama.
- Poxa Joana, te fiz uma pergunta.
- É díficil para você responder?
- Sim Paulo é! E muito!
Começou a falar, e lágrimas rolavam de seus olhos.
Mas respirou fundo. Pensou no sonho que tivera com sua mãe. Uma força interior vinda de algum lugar, invadiu-lhe a alma e o peito.
- Paulo,quando te vi pela primeira vez, me apaixonei por você.
- Você me dá carinho como outro namorado meu nunca deu. Me respeita, como nunca fui respeitada.
- Olha, posso estar sendo idiota, mas eu lhe amo muito. Não estou cobrando seu amor, mas me apaixonei por ti, muito.
- Bem Joana. Os outros namorados que você teve realmente não lhe podiam dar o amor que você quer, pois eram seus clientes.
- Paulo!!
- Transava quantas vezes por dia! Uma! duas! três!"!!
Joana disse:
- Olha Paulo, não preciso de dó nem piedade sua tá.
- Acho melhor ir embora.
- Daqui há três meses terminamos nossa residência e cada um vai para o seu lado.
- Espero que você seja feliz tá, do fundo do meu coração.
- Seja feliz.
Ela levantou-se. Ele também.
Ainda nus ficaram frente à frente.
- O que é Paulo? Nunca viu uma médica prostituta?
Ele olhou-a fixamente por alguns minutos:
- Diga! Aumentando seu tom de voz.
- Bem Joana, sempre soube que você fazia programas. Antes de te conhecer frequentemente visitava os sites de acompanhantes pela internet e lá escolhia as garotas.
- Uma vez vi você naquele site chique. Você estava linda, maravilhosa.
- Nem sei porque não te liguei para sair contigo.
- Fiquei surpreso quando te vi andando de jaleco branco pelos corredores do hospital.
- Ai você se envolveu só para sair comigo não foi?
- Sim e não Joana.
- Adorei sair contigo. Adorei tê-la conhecido. Adoro conversar contigo.
- Sei João, sei!
- Mas, quero te fazer um convite.
- Faça, disse Joana.
- No feriado da semana santa vou para Goiás, passar a Páscoa com meus pais e irmãos.
- Quer ir comigo?
- Não sei!
- Sabe Joana, gostaria que meus pais conhecessem uma mulher bonita, inteligente e que conquistou meu coração por inteiro.
- Te amo Joana! Desde o momento que te conheci.
- Quer ser minha namorada, esposa, amante, mãe de meus filhos?
- Paulo............
Lágrimas rolavam pela face de Joana e Paulo.
Naquele momento os dois se abraçaram e beijaram-se como nunca haviam feito antes.
Deitaram-se novamente. Se amaram verdadeiramente.
Joana sentiu entrar dentro dela o nectar do prazer, do amor, do sentimento puro e verdadeiro que tanto ela procurava.
Adormeceram.........
Uma esfera luminosa pairou sobre eles.
Uma mulher se formou em pé ao lado da cama, ao lado de Joana.
- Minha filha fique em paz. Agora você encontrou a sua felicidade.
- Seja feliz Joana.
- Seja feliz Paulo.